O que você precisa saber sobre o parto humanizado (a visão da fotógrafa)
Um dia desses, comentando com uma gestante que me procurou para pedir um orçamento de fotografia de parto sobre o quanto prezo pela humanização, ouvi a seguinte frase:
“Eu não teria coragem de ter um parto humanizado!”
Após alguns breves instantes em choque, voltei à consciência e perguntei o motivo de tamanha aversão. E logo entendi que o termo geralmente trás a mente das pessoas uma associação incorreta.
Será que você sabe o que é um parto humanizado?
Percebo que muitas pessoas pensam que um parto humanizado é um parto em casa, sem assistência (sem médica, enfermeira obstétrica e/ou obstetriz), ou um parto na praia, na água, no meio do mato... Ou que se refere apenas à via de parto vaginal.
Mas, na realidade, trata-se de um parto com uma assistência que respeita o evento natural do corpo, promovendo o protagonismo da parturiente, tanto no parto normal quanto na cesárea!
Para o parto ser humanizado, não basta a equipe falar com voz fofa! No parto humanizado, as escolhas da mãe são respeitadas, o tempo do corpo dela, o tempo do bebê, a posição que escolher parir (quando parto vaginal), o plano de parto, entre outros.
A gestante não fica desassistida, muito pelo contrário, seu estado de saúde e de seu bebê são constantemente monitorados e avaliados para intervir apenas se e quando necessário, sempre comunicando à parturiente de forma clara se houver possibilidade de escolha e suas possíveis consequências.
3 pilares do parto humanizado:
Protagonismo da mulher
Visão interdisciplinar, levando em conta aspectos emocionais, sociais e culturais
Medicina baseada em evidências científicas.
Então, nem todo parto normal é humanizado! Por muitas vezes, no parto normal, não são respeitados os 3 pilares.
E a cesárea, com real indicação e com a mãe bem informada sobre seus riscos e benefícios, também estará dentro da humanização, quando houver uma assistência respeitosa, interdisciplinar, permitindo a presença da doula e que, mesmo dentro do ambiente cirúrgico, consiga respeitar escolhas da mãe, como luz mais baixa, sem excesso de ruídos e conversas paralelas, permitir o contato pele a pele e amamentação durante a primeira hora de vida do bebê (sempre que mãe e recém nascido estiverem em boas condições de saúde), entre outras preferências que podem e devem estar descritas no plano de parto (sim, o plano de parto é importante mesmo se a via de nascimento for uma cesárea!).
Mas o que a fotógrafa de parto tem a ver com a humanização?
Não basta apenas saber sobre a técnica de Fotografia para ser fotógrafo de parto. Como fotógrafa de parto, tenho obrigação de saber o mínimo sobre o que é parto humanizado, fases do trabalho de parto, intervenções, violência obstétrica e neonatal (tanto em parto normal quanto na cesárea) e muitas outras coisas!
Preciso entender e respeitar o ambiente do parto! Entender os motivos pelos quais, no parto, a luz baixa é tão importante e usar meu conhecimento de técnica fotográfica para lidar com a luz que terei disponível, aproveitando-a da melhor maneira possível.
Devo saber meu lugar físico e moral dentro daquele contexto.
Não dá para registrar violências obstétricas e publicar como se fosse algo normal, romantizando e enganando toda uma cadeia de gestantes, que, ao verem aquelas cenas acompanhadas de uma trilha sonora calma e bonita, entenderão que o parto é isso mesmo, um lugar onde elas não terão voz e não serão respeitadas.
Fotografar um parto pautado no tripé da humanização é algo incrível, que transparece nas fotos, tamanha serenidade e respeito existentes ali.
Fotografar uma mãe que está bem informada e ciente de seus desejos e decisões é pura potência!
E agora? Você teria coragem de ter um parto humanizado?