Promovido a irmão mais velho
Quando meu primogênito, aos seus 03 anos, soube que teria um irmão, acredito que ele não fazia ideia do que realmente é um irmão.
Tampouco sobre o tempo que ainda levaria para ele nascer e que esse irmão seria para sempre.
Afinal de contas, “como assim, tem um bebê na barriga da minha mãe? Como entrou? Como vai sair?”
Eu - no meu lugar de filha caçula - ficava tentando imaginar o que poderia estar se passando na cabecinha dele, tanto durante a espera, quanto na chegada.
Eu - no meu lugar de mãe - me sentia um tanto angustiada...
Primeiramente por não acreditar que fosse possível amar o segundo como já amava o primeiro (e realmente, a proporção é a mesma, mas não é igual, são amores diferentes, pois são pessoas diferentes).
Pensava em como seria a divisão de tempo, mas na verdade, trata-se de uma soma. Soma no trabalho que dá, soma nos sorrisos e brincadeiras.
Aproveitava todos os momentos com o mais velho, enquanto gerava o mais novo, encarando como uma despedida – que, de fato, é.
Me preocupei muito em como o primogênito se sentiria, com outro serzinho chegando para ficar, tomando espaço na casa, no seu quarto, no quarto dos pais... Nos sons do ambiente, com um choro estridente em meio a madrugada (prevendo a frase que viria por aí, “mãe, põe ele de volta na barriga”, ou “ah, mãe, deixa ele chorar e vem brincar comigo”). Nas fraldas sem fim, num colo eterno da mamãe que amamenta.
Recebi um conselho (entre muitos que recebemos na gestação, diga-se de passagem) de uma médica do trabalho, no dia de meu afastamento para licença maternidade: comprar um brinquedo, para quando o mais velho fosse conhecer o irmãozinho na maternidade, dizer que o caçula o trouxe.
Fiz isso, e sabem de uma coisa?
Meu filho mais velho não se lembra de como era ser filho único. Mas se lembra com carinho do dia em que seu irmão chegou e trouxe misteriosamente para ele, o carrinho que ele tanto queria!
Esse ato não tornou a adaptação um mar de rosas não. Não preciso mentir, foi difícil, foi complexo, assim como é toda adaptação. Percebia o mais velho, que estava prestes a completar 04 anos, amadurecer rapidamente, conversando quase como um adulto... Segurando o choro... Ele ainda era um bebê.
Diziam que era preciso continuar tendo momentos só com o mais velho... Eu concordo, mas só em partes... Acredito que se você tiver 2, 3, 10 filhos, deve reservar um tempo exclusivo com cada um, e não precisa ser um tempão. E sim, alguns detalhes que sejam só de vocês. Sem cobranças, é algo que acontece com fluidez.
Cada um tem sua individualidade, cada família se adaptará de uma forma.
No fim, o irmão mais velho teve o privilégio de pais estreantes, o mais novo, de pais experientes.
De filho único, ele passa a ser inspiração (pelo menos aqui, funciona assim).
Me conta, como foi para você, ou como imagina que será?